O que há alguns anos já se mostrava como uma tendência, em pouco tempo, revelou-se uma necessidade. Do dia para a noite, com o fechamento físico das instituições de ensino em função da pandemia do novo coronavírus, professores, escolas e universidades em todo o Brasil impuseram-se o desafio de dar continuidade ao processo de ensino-aprendizagem por meio de plataformas digitais. Mais do que gravar aulas em vídeo, os educadores foram instigados a manter o vínculo com seus alunos e promover, ao máximo, a interação social.
Além da infraestrutura, o acesso às ferramentas tecnológicas pelos professores e pelos estudantes são questões extremamente desafiadoras. Mas há várias tendências que podem ser destacadas e que poderão contribuir para o desenvolvimento futuro da educação e da ciência no Brasil.
No cenário da crise que estamos vivendo, a aprendizagem mediada pela tecnologia faz todo o sentido, pois nos exige aprender enquanto estamos com a mão na massa. Há uma infinidade de recursos tecnológicos disponíveis, que possibilitam a interação e a troca de saberes nunca antes imaginada. Daqui para a frente, não há como pensar em uma educação totalmente presencial e desconsiderar todas ricas possibilidades que o digital pode acrescentar.
Muitos desafios foram encontrados pelas instituições de ensino na busca por uma estratégia para suprir a ausência física da sala de aula e do professor. O início foi marcado por recursos como mensagem por whatsapp, e-mail e outras ferramentas específicas para enviar vídeo aulas e tarefas aos seus alunos. O método deixou muitos alunos perdidos e sem orientação em relação às atividades propostas.
Para evitar que esse tipo de situação acontecesse, as entidades apostaram na transmissão de aulas online e ao vivo, permitindo a troca e a interação entre aluno e professor. Além disso, a aula fica gravada e pode ser revista quantas vezes forem necessárias para uma boa compreensão do conteúdo.
Instituições de ensino que já caminhavam na direção do uso das ferramentas digitais ganharam pontos na contribuição para formar cidadãos capacitados para a era do mundo digital. Foram muitos avanços em um curto espaço de tempo, trazendo muitas oportunidades no uso da tecnologia para a educação.
Estudantes e professores se familiarizaram de forma rápida com as novas ferramentas que permitem transmissão de aulas, formação de grupos em salas virtuais para assuntos específicos, envio e recebimento de atividades, calendário, chat e muitos outros recursos de integração com outros aplicativos. É o futuro chegando mais cedo para algumas escolas e universidades.
Este conceito está relacionado a Indústria 4.0 também conhecida como quarta revolução industrial. Trata-se da evolução da tecnologia e do impacto que ela tem no nosso dia a dia. Internet das Coisas, Inteligência Artificial, Coleta e Análise de dados e outros conceitos fazem parte da aplicação da tecnologia às indústrias automatizadas. Por isso é importante que as escolas, universidades e institutos preparem os alunos para essa nova realidade.
A automação digital tem guiado o mundo e por isso, o foco de aprendizado passa a ser para novas profissões e para o abandono de outras que, em algum tempo, devem se tornar obsoletas.
Esse fato, por si só, já é uma revolução. Não se trata de mudar a grade curricular ou incluir novas disciplinas, a Educação 4.0 está baseada no que os estudantes devem aprender com a mão na massa e não apenas na teoria, tornando o ambiente escolar mais colaborativo e dinâmico.
A sala de aula tradicional, com carteiras separadas por filas e o professor à frente de uma lousa, não favorece o dinamismo necessário para a educação 4.0. Os espaços tradicionais, deverão ser transformados em áreas colaborativas, que permitem interação.
Além do espaço físico e dos equipamentos tecnológicos, a maior mudança está na forma que o ensino será abordado, ressaltando ainda mais a importância do educador que deve instigar e incentivar descobertas dos alunos, deixando de ser um repassador para ser orientador.
Um dos principais desafios para que a Educação 4.0 seja uma realidade nas escolas brasileiras, é apostar na formação de professores preparados para o uso das novas tecnologias e que dominem os conceitos e práticas relacionadas para acompanhas as rápidas inovações.
O educador será provocado a estimular a autonomia do aluno na construção do conhecimento, que desenvolva o pensamento crítico e a capacidade de solucionas problemas complexos, sendo o professor, um grande incentivador das descobertas de cada um de seus alunos.
Além da técnica, competências emocionais se tornam extremamente importantes no contexto da Revolução. Muito mais que dominar a tecnologia, a inserção qualificada na era digital se dá pela capacidade de colaboração e adaptação, habilidades que terão de ser compartilhadas entre aluno e professor.
Estes serão desafiados a estimular a solução de problemas complexos de forma compartilhada e cooperativa. Necessariamente, os modelos pedagógicos incluirão o desenvolvimento dessas competências, já que além de dominar a técnica, a cooperação, comunicação e adaptação serão algumas condições do mundo pós pandêmico.
Escolas e professores têm usado a criatividade para inovar e manter o vínculo com os estudantes. O caminho é irreversível e aponta para o uso de vários meios para que o aprendizado aconteça. Aplicativos, jogos, softwares e encontros presenciais, são alguns métodos que promovem trocas de experiências, discussão de exercícios práticos e o fortalecimento do contato entre professor e aluno.
O cenário pós pandemia mostra que haverá implementação de estratégias didáticas inovadoras, exigindo a criação de espaços multidisciplinares e o uso de tecnologias como realidade virtual, realidade aumentada, câmeras 360° e softwares para desenvolvimento de projetos colaborativos. São muitas as opções, estimulando, inclusive, o uso de games.
A transformação da educação também vai depender muito dos gestores e dos estabelecimentos de ensino. A implementação de mudanças pode partir de decisões administrativas tomadas em suas instituições. Uso da tecnologia na administração da escola, softwares de gestão, mecanismos para matrícula e rematrícula online, são algumas ações.
O sistema de avaliação também precisa ser revisto. Gestores escolares e professores precisam repensar a questão de notas e a possibilidade de migrar para uma avaliação focada no desenvolvimento pessoal de cada aluno e dos seus interesses.
Há várias iniciativas sendo desenvolvidas e que podem contribuir com gestores, educadores e aluno. Plataformas que englobam conteúdos educacionais e interativos, além da formação continuada de professores.
Um exemplo interessante a ser citado é o Micro Bit, criado pela BBC na Inglaterra e utilizado em escolas de todo o mundo. Trata-se de um computador com apenas uma placa destinado a educação de crianças e adolescentes, em conceitos básicos de computação e programação. Ele incentiva a criatividade e está sintonizado com um dos pressupostos da Educação 4.0, que é a mão na massa. Os alunos são convidados a experimentar como a tecnologia pode fazer parte do aprendizado.
Mesmo em meio a tanta tecnologia, não podemos esquecer da nossa condição. Somos pessoas, com necessidades e dificuldades.
O educador 4.0 precisa estar sintonizado com esses desafios e fomentar a resiliência em seus alunos. O avanço através do uso da tecnologia é necessário para solucionar questões humanas, respeitar as diversidades e, mais do que nunca, desenvolver as competências socioemocionais.
As máquinas não podem ser um obstáculo para a comunicação e a interação. Muito pelo contrário, podem ser instrumentos capazes de nos colocar em rede, em modo de funcionamento compartilhado. Ao mesmo tempo que interagem com as novas tecnologias, os professores precisam desenvolver atividades em sala de aula capazes de conectar os mundos físico e digital, o online e o off-line.
O mundo pós-pandemia e a educação sintonizada com os novos desafios já chegou para preparar as crianças e jovens para a vida como ela é: inovadora, conectada, desafiante e compartilhada.